domingo, 24 de fevereiro de 2013

Leitura Diária #005


Rompendo com o passado

A vontade de ser diferente não nasceu com o rock’n’roll: movimentos culturais sempre brigaram com as tradições para criar o novo

POR Sérgio Martins

Frank Sinatra costuma ser lembrado como o senhor de voz impecável e olhos azuis que fez gravações definitivas de My Way e Strangers ins the Night – standards que dificilmente se encontram no iPod dos jovens. Nos anos 1940, porém, Sinatra foi um ídolo adolescente no molde dos Jonas Brothers. Sua ascensão ao estrelato ocupa o capítulo inicial do livro A Criação da Juventude, do crítico inglês Jon Savage. Na visão do autor, Sinatra e suas plateias de garotos eram a síntese exata de um novo espírito americano, hedonista e autoconfiante, que emergia da vitória na Segunda Guerra Mundial. Mais importante, o sucesso do cantor consolidaria a ideia de uma cultura especificamente jovem, que nas décadas seguintes – a era do rock e do pop – seria o motor da indústria do entretenimento. A gestação desses valores juvenis foi longa e acidentada. Contrariando o lugar-comum que atribui ao rock dos anos 1950 e 1960 a primazia das revoltas juvenis, o crítico desvela uma tradição esquecida dos movimentos sociais, políticos e artísticos que no século 20 levantaram, para o bem e para o mal, a bandeira da rebeldia.

O ensaio histórico traz retratos vigorosos das tribos urbanas formadas pelos jovens a partir do século 19. “Para a minha surpresa, muitos desses grupos tinham ideais e comportamentos semelhantes aos dos punks”, disse Savage. O cinismo anárquico dos punks já aparecia quase um século antes entre gangues nas periferias das grandes cidades. Tal foi o caso dos delinquentes juvenis que, na Paris do fim do século 19 e início do 20, ficaram conhecidos como “apaches”.

A necessidade de pertencimento a um grupo, tão própria da psicologia adolescente, seria manipulada politicamente pelos movimentos fascistas da primeira metade do século 20. A Juventude Hitlerista, conjugando fervor racista e truculência, teve papel importante na ascensão do nazismo. O contraponto aos nazistas mirins eram os swing kids, garotos alemães que adoravam música norte-americana e se arriscavam a ouvir jazz e programas da rádio inglesa BBC, o que era proibido pelo regime nazista. Minoritários na Alemanha, os fãs do swing eram multidão nos Estados Unidos, onde o gênero musical começou a romper, já nos anos 1930, as barreiras da segregação racial. Jovens brancos rendiam-se a um ritmo negro. E em alguns bailes até se viam brancos e negros dançando juntos.

O sucesso do swing foi decisivo para que a indústria do entretenimento despertasse de vez para o potencial da juventude como público consumidor. Nos anos 1940, são lançadas as primeiras revistas dedicadas ao leitor jovem. Na mesma época, consagra-se a palavra teenager para definir o período que vai dos 13 aos 19 anos. Depois viriam os beats, os hippies, os punks, os metaleiros – mas isso já extrapola os limites do livro, que se encerra em 1945, com as bombas atômicas sobre o Japão e o som de Frank Sinatra. O final peca pela reprovação moralista ao “consumismo” da cultura jovem. “A rebeldia adolescente foi banalizada pela indústria”, escreveu Savage.

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Caça Informação

1) Levante hipóteses sobre as mudanças de comportamento dos jovens após a Segunda Guerra Mundial.

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2) Relacione o movimento artístico chamado Impressionismo, do século 19, com a rebeldia musical do século 20.

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Quer o gabarito das questões acima? É só colocar o seu e-mail nos comentários que eu te mando!!

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