Figurinhas carimbadas
Dicionário de clichês traz mais de 4 mil palavras e
expressões (como a usada no título deste texto) que devem ser evitadas por quem
quer escrever bem.
POR Fernanda Ribeiro
“Vive no mundo da lua quem acha que nossa atual sociedade
brasileira vai às mil maravilhas. A coisa está tão feia que tem gente matando
cachorro a grito e vendendo o almoço para pagar a janta. Enquanto se vê na TV
que a economia vai de vento em popa, a maioria de nós chega ao final do mês sem
nenhum tostão furado no bolso. A massa oprimida do país não consegue sair do
buraco e o abismo social se aprofunda. E como Deus não dá asa à cobra, a
maioria de nós fica a ver navios enquanto os ladrões de colarinho branco
recheiam seus bolsos com o dinheiro suado do povo. Mas um dia a casa vai cair e
a justiça será feita. Devemos concentrar nossas mentes e corações nesse sonho
distante”.
O parágrafo anterior é um exemplo de como textos recheados
de clichês podem ser vazios de conteúdo. O escritor e jornalista Humberto
Werneck passou mais de 30 anos anotando e colecionando expressões desse tipo. A coletânea resultou em 4.640 clichês,
compilados na obra “O Pai dos Burros – Dicionário de Lugares-Comuns e Frases
Feitas” (Arquipélago Editorial, 208 páginas). A riqueza de lugares-comuns
mapeada por Werneck é tal que somente a palavra “mão” rendeu 47 jargões. Por
que é tão irresistível cair nas armadilhas de um bom clichê? Porque, como
define a britânica Julia Cresswell, na obra “The Penguin Dictionary of Clichés”,
os chavões são “as expressões que pensam por nós”, que evitam o risco de
inventar com as palavras e trazem a segurança de se usar o que já deu certo
para um outro.
Werneck afirma que não escreveu o livro para punir os
proscritos da linguagem. Jura que não tem vocação para policial dos excessos
semânticos. Ao colecionar frases feitas e lugares-comuns, ele só teve a
intenção de incentivar a “ reciclagem criativa de expressões”. Algoz da falta
de criatividade ou não, a obra de Werneck não deixa de ser um bom manual do que
não usar.
Haja clichê
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Caça Informação
1) O que são clichês e por que seu uso pode empobrecer um
texto?
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2) “Enquanto se vê na TV que a economia vai de vento em
popa, a maioria de nós chega ao final do mês sem nenhum tostão furado no bolso”.
Tente reescrever essa frase sem recorrer ao uso de lugares-comuns.
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