quinta-feira, 14 de março de 2013

Leitura Diária #018


O idioma, vivo ou morto?

O grande problema da língua pátria é que ela é viva e se renova a cada dia. Problema não para a própria língua, mas para os puristas, aqueles que fiscalizam o uso e o desuso do idioma. Quando Chico Buarque de Hollanda criou na letra de “Pedro Pedreiro” o neologismo “penseiro”, teve gente que chiou. Afinal, que palavra é essa? Não demorou muito, o Aurélio definiu a nova palavra em seu dicionário. Isso mostra o vigor da língua portuguesa. As gírias e expressões populares, por mais erradas ou absurdas que possam parecer, ajudam a manter a atualidade dos idiomas que se prezam.

O papel de renovar a atualizar a língua cabe muito mais aos poetas e ao povo do que propriamente aos gramáticos e dicionaristas de plantão. Nesse sentido, é no mínimo absurdo ficar patrulhando os criadores. Claro que os erros devem ser denunciados. Mas há uma diferença entre o “erro” propriamente dito e a renovação. O poeta é, portanto, aquele que provoca as grandes mudanças na língua.

Pena que o Brasil seja um país de analfabetos. E deve-se endender como tal não apenas aqueles 60 milhões de “desletrados” que o censo identifica, mas também aqueles que, mesmo sabendo o abecedário, raramente fazem uso desse conhecimento. Por isso, é comum ver nas placas a expressão “vende-se à praso”, em vez de “vende-se a prazo”; ou “meio-dia e meio”, em vez de – como é mesmo?

O português de Portugal nunca será como o nosso. No Brasil, o idioma foi enriquecido por expressões de origem indígena e pelas contribuições dos negros, europeus e orientais que para cá vieram. Mesmo que documentalmente se utilize a mesma língua, no dia-a-dia o idioma falado aqui nunca será completamente igual ao que se fala em Angola ou Macau, por exemplo.

Voltando à questão inicial, não é só o cidadão comum que atenta contra a língua pátria. Os intelectuais também o fazer, por querer ou por mera ignorância. E também nós outros, jornalistas, afinal, herrar é umano, ops, errare humanum est. Ou será oeste?

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SANTOS, Jorge Fernando dos. Estado de Minas,
Belo Horizonta, 10 jun. 1996 (Texto adaptado)

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